AUTOR: GOETHE
PERSONAGENS:
Fausto;
Alfred;
Satã;
Greta;
Edite;
Missionária;
Deus
Trata-se de uma estória de vida de um homem desgraçado financeiramente e moralmente. Cercado por violentas pressões comete loucuras imperdoáveis. Haverá esperanças?
I Ato
Cenário : Uma mesa, uma cadeira e um copo sobre a mesa, uma banqueta e um espelho.
Início : Fausto junto à mesa com a cabeça apoiada sobre os braços. Greta num canto, penteando-se.
Greta : Maldito cabelo! A essa hora ainda não se acerta... (vira para Fausto) - e para enervar-me mais ainda ficas aí, inerte, tal qual um objeto! (Pausa...)
Greta : Oh, está tudo errado! A essa hora ele ainda não se acerta (vira para Fausto) - e para enervar-me ainda mais ficas aí, inerte, tal qual um objeto... (vira-se ao espelho - pausa)... Eis que batem. Atendes?... Entre!
(Entra Alfred nervoso)
Alfred : Fausto!
Fausto : (levanta-se e vai ao seu encontro) 0 Que te traz aqui, fiel amigo?
Alfred : Notícias deveras ruins, Fausto. Os credo...
(Fausto não o deixa terminar. Pede silêncio apontando para sua esposa)
Fausto : Fala-me... porém baixo. Ela tudo ignora.
Alfred : Como? Achas justo ocultar tua ruína perante aquela que com ti convives?
Fausto : Oh, caro amigo, ignoras a aspereza de Greta. Mais doloroso seria meu sofrimento se dela ela compartilhasse (olha para o chão - pausa) - mas fala-me, o que sucedeu?
Alfred : Fausto, Fausto, a situação encontra-se insustentável, tu estás falido! Teus credores invadiram teu escritório e o puseram em chamas. Ameaçaram ainda prender-te perpetuamente caso não cubras tuas dívidas!
Fausto : Ih! Que dizes! Acaso a situação encontra-se tão grave? O que farei, Alfred, ajuda-me!!!
Alfred : Sinto, Fausto. Eu não estou em melhor situação que tu. Porém ainda a mim não impuseram tão severa punição! Preciso partir para que o mesmo comigo não aconteça. Compreenda-me, não junge-me infiel... Adeus!
(sai despedindo-se de Greta. Ela fica desconfiada. Fausto cai arruinado sobre a mesa)
Greta : O que tens? O que queria Alfred? Dize-me homem de Deus!
Fausto: Deixa-me em paz, mulher, nada sucedeu. Apenas encontro-me indisposto.
Greta : Então revelas hoje outro defeito teu? És mentiroso além de fraco! Sei bem o que te perturba. Tua hipocrisia não proíbe de ouvir o que se passa ao meu redor.
Fausto: tranqüiliza-te. Nada houve.
Greta: Infame! Insistes em permanecer em teu erro? Estás à ruína, bem sei. Odeio-te.
Fausto : Cala-te.
Greta : Jamais! Hei de proclamar teus fracassos até o fim de meus dias. És um fraco, um inútil, um ...
Fausto : Basta! Tua língua felina só causa ruínas. Acaso já tentaste algum dia ajudar-me?
Greta : Ajudar-te? Oh! Fausto, quanta ingenuidade! Pensas então que possuis esta casa, tuas roupas, teus criados, posição, por teu próprio talento? Achas realmente que tens um emprego por causa de tua capacidade?
Fausto : Que dizes? Aonde queres chegar com teu sarcasmo?
Greta : Aonde qualquer pessoa em condições normais chegaria: tens tudo isso, Fausto, graças à posição daquela que desprezas. Sim, meu pai deu-te tudo, amparou-te, por minha causa, para não ver-me na ruína. Quantas e quantas vezes recorri a ele em lágrimas! Oh, se tivesse ouvido meus conselhos...
Fausto : Conselhos? Explica-me! Diz-me o que pensas, anda!
Greta : Dir-te-ei, Fausto, sim dir-te-ei para que saibas quem és. Papai avisou-me de tua incapacidade, de tua incompetência. Bem disse-me que não serias esposo para mim. Mas eu estava cega. Sim, deveria estar realmente cega para não enxergar tua mediocridade! Fausto : Conselhos? Explica-me! Diz-me o que pensas, anda!
Greta : Dir-te-ei, Fausto, sim dir-te-ei para que saibas quem és. Papai avisou-me de tua incapacidade, de tua incompetência. Bem disse-me que não serias esposo para mim. Mas eu estava cega. Sim, deveria estar realmente cega para não enxergar tua mediocridade!
Fausto : Víbora! Achas que me atinge o que dizes? Pensas que só tive apoio de teu falecido pai? Eu próprio fiz negócios com os mais ilustres cidadãos da Corte!
Greta : Tu? Acreditas realmente que alguém ajudar-te-ia sem que houvesse garantias? Já viste algum empréstimo a um negócio falido? Se não fossem as boas relações de meu pai estarias na lama bem antes de festejarmos nossas bodas. Agora, porém, morto meu pai, além de gastares até o último tostão de minha herança em negócios medíocres, jogos, bebida, estás à ruína mesmo antes das previsões de meu saudoso pai...
Fausto : Maldita! Agiste sorrateiramente para humilhar-me depois. Retiro-me! Já não posso suportar tua presença!
(Sai. Ironicamente Greta senta-se e continua a pentear-se)
II Ato
Cenário : Uma cama de campanha, uma mesa com outra toalha, um vaso.
Início : Fausto sentado esperando Edite. Está paciente e decepcionado.
Fausto : Oh, Deus, por que a vida apronta-me tanta desgraça? O que será de mim? Todos querem ver-me pelas costas, até minha própria esposa...
Edite : Fausto!! (entra Edite com uma cesta. Ao vê-lo larga-a, correndo ao seu encontro)
Fausto : Minha adorada! Ao menos tu me compreende!
Edite : Sempre, sempre... Observo-te, o que tens?
Fausto : Nada, deixa-me esquecer. Contigo livro-me de todos os meus péssimos pensamentos!
Edite : Compreendo... não cabe a mim aconselhar-te... nem ao menos sou tua esposa!
Fausto : Edite, sabes o quanto te estimo. Sabes que amo-te mais que a mim mesmo...
Edite : Esqueça, amor, mudemos de assunto. Quero que fiques calmo e feliz!
Fausto : Como és diferente de minha esposa...
Edite : Amas-me somente?
Fausto : Sabes que sim.
Edite : Hoje tive um dia atarefado. Fui levar Córdula ao médico. Está com manchas na pele.
Fausto : Córdula... como está nossa menina?
Edite : Linda, Fausto, linda, apenas lastimo tu não quereres vê-la.
Fausto : Sabes que não é verdade. Eu não posso!
Edite : Lamento muito!
Fausto : Pro que ironizas? Infeliz a garota? Nada lhe falta e eu...
Edite : Basta por favor... falemos em outra coisa...
Fausto : Não, prossigamos!
Edite : Pois bem, Fausto, sabes o que penso. Sinto-me triste. Tu jamais darás teu nome a nossa filha.
Fausto : Tu bem sabes...
Edite : Não, não sei de nada, não. Jamais me convencerás! Tens na realidade é vergonha de mim, vergonha de mostrar-se ligado a uma infame amante!
Fausto : Há tantas implicações que...
Edite : Vamos, explica-te!
Fausto : Compreenda, se um dia registrar nossa filha, o que gostaria imensamente, seria abandonado por minha esposa e...
Edite : Então ama-a! Como fui tola!
Fausto : Não penses assim. Tu e somente tu és a razão de minha vida. Penso em nosso futuro! Se Greta me abandonar morrerei a esmo. Ela ainda tem do2.0pt; color: black">: Para, por favor!
Edite : Então viva! Aceita tua própria filha!
Fausto : Não, não posso (grita forte e desesperado)
(Edite percebendo o nervosismo de Fausto, muda de tática)
Edite : Nem pense! O amor é a coisa mais importante para a humanidade. Tua filha nem te conhece. Tu não gostarias de sentir os bracinhos dela sobre o teu pescoço? Não gostaria de sentir-se amado por quem tu próprio criaste?
Fausto : Cala-te, tua voz já se tornou um martírio para mim.
Edite : (muda de expressão - ódio) Tu me decepcionas! Sabes de onde vim agora? Do mercado. Vês? (mostra a cesta vazia) - Ninguém me vende nada, vivem falando mal às minhas costas... Sei que não posso esperar coisa melhor para mim... digo para MIM, entende? Não quero que nossa filha seja como eu. Ela não merece! Jamais te deveria ter conhecido... (pausa) Pois bem, tentarei corrigir o que tanto lastimo ter cometido. Vou embora, EMBORA! Tu jamais me verás. Nem a mim nem a tua filha que tanto te odiarás.
Fausto : O que dizes?
Edite : Sim, ela te odiará. Pensando bem é melhor ela nem saber de tua existência. Fausto, Fausto, muda de idéia! Fica comigo, aceita tua própria filha...
Fausto : Não.
Edite : Ficarás feliz com a minha partida?
Fausto : (desesperado) Sofrerei amargamente!
Edite : Serás como dizes.
(Sai, vira, olha Fausto pela última vez e vai embora. Fausto desolado, senta-se. Entra o missionário, após breve pausa)
Miss : Disseram-me que te encontraria aqui.
Fausto : Que queres? Vens tu ainda atormentar-me?
Missionária : Não, Fausto. Vim trazer-te um pouco de alento para tua alma atribulada.
Fausto : Alento? Ora, não preciso disto. Preciso, outrossim, de dinheiro, muito dinheiro. Tens?
Missionária : Não. Tenho algo mais importante a te oferecer. Tenho a Cristo.
Fausto : Cristo! Que tem ele comigo? O Cristo que tanto falas abandonou-me há muito. Já nada mais quer de mim.
Missionária : Não fales assim, amigo. Ele nunca te abandonou. Ele te ama. Fala-te: "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei". Atenda-o!
Fausto : Qual! Para mim nada mais importa. Todos me abandonaram. Minha esposa, minha amante. Até mesmo Alfred, meu único amigo. Os credores me perseguem onde quer que vá. Nada mais possuo...
Missionária : Podes possuir a Cristo, Fausto.
Fausto : Basta! Não quero ouvir-te mais. Estou cheio de tuas lamúrias! Retira-te, ao menos, e deixa-me só.
Missionária : Que tu nunca venhas a te arrepender, Fausto.
(Retira-se. Apenas uma luz de um abajur passa a funcionar)
Fausto : Maldito! Maldito ele e toda a sua raça! Falam-me de Cristo... Que me adianta rezar se não tenho mais o que comer, o que vestir? Se fui abandonado por todos e sou perseguido dia e noite? Maldito o dia em que nasci! Pudesse eu sair dessa ruína... Para tanto, seria capaz de vender minha própria alma a Lúcifer!!!
(Acende-se e apaga-se a luz do abajur. Música sinistra)
Satã : Chamou-me, Fausto?
Fausto : Quem és tu?
Satã : Quem sou eu? Então não me chamaste?
Fausto : Que dizes? És...
Satã : Sim Fausto, sou Satã que tu mesmo invocaste!
Fausto : Estou louco! És uma miragem! (grita com as mãos sobre os olhos)
Satã : Por que admira-te tanto? Vim porque tu me chamaste!
Fausto : O que queres afinal?
Satã : Eu? Ora ...nada! Tu que queres, Fausto. Tu queres minha ajuda. Tu precisas de mim.
Fausto : Eu? Não, eu sou um cristão...
Satã : Ora, Fausto, Deus te abandonou. Tu sabes. Aproxime-se.
Fausto : Não!
Satã : Pois bem, partirei. Tu ficarás perdido, Fausto (afasta-se mas Fausto o chama)
Fausto : Espere.
Satã : Sim.
Fausto : O que tens a me oferecer?
Satã : Fama, glória e fortuna, Fausto!
Fausto : Deveras? Cumprirás tua palavra?
Satã : Naturalmente!
Fausto : Se é como dizes, não hesitarei. (Fausto aproxima-se de Satã. Subitamente para e volta para trás) Espera, o que dar-te-ei em troca?
Satã : Tua alma Fausto. Tua alma me pertencerá!
Fausto : O que?
Satã : Sim, Fausto. (Satã vai até mesa e pega um papel) Assine aqui e terás 15 anos de glórias e fortuna. Terminado este prazo virei buscá-lo!
Fausto : Pensas que sou louco? Como poderei eu cometer tamanho pecado? Estaria eternamente amaldiçoado!
Satã : Tu já estás amaldiçoado. Não lembras as infames palavras que disseste a teu Deus?
Fausto : Sim, mas...
Satã : Estás sem saída, Fausto. Pensa que em tua glória, tuas mulheres... tu poderás vingar-te de todos que te ofenderam... Assine!
(Satã aproxima-se de Fausto. Pega uma faca na mesa e corta o braço do mesmo. Satã põe o sangue numa varinha)
Satã : Assine com teu próprio sangue! Vamos, não hesite, assine!
(Fausto assina)
Satã : Bem fizeste. Veremo-nos em breve, creia. (sai da mesma forma que entrou, porém sem acender o abajur)
Fausto : O que fiz, meu Deus? Fiz um contrato com Satã!!! Desgraçado sou perante os céus e a terra. Deus me abandonou. NÃO!!!
(Senta-se no chão e abaixa a cabeça. Subitamente as luzes do palco acendem-se e apagam-se caindo dinheiro do céu. Fausto levanta)
Fausto :- O que está a acontecer? Céus, ele cumpriu sua palavra (começa a rir) Ele cumpriu! Estou rico. (ri) Estou rico...
III Ato
Cenário : Há somente uma luz fraca na sala. Uma poltrona coberta por um pano.
Início : Fausto está sentado na poltrona, desesperado.
Fausto : Passaram-se quinze anos... Quinze anos de glórias, quinze anos de felicidades. Felicidade? Oh, não! De simples alegrias, somente. Nunca fui feliz. A sagacidade, a vingança. o egoísmo e o comodismo não me trouxeram a felicidade esperada. Nestes quinze anos escondi-me atrás de minha fortuna, de meus falsos amigos, e dizia-me feliz. Quão tolo fui! Bem sabia que um dia chegaria minha hora novamente. Procurei não pensar, procurei fugir. Que me adiantou? Eis que passaram já os anos de glória e está para chegar meu carcereiro. Carcereiro, sim, porque viverei eternamente àquele ente monstruoso, graças à minha ganância. Oh, Deus! Não haverá mais salvação para mim? Onde está agora o missionário que vivia a encher meus ouvidos? Vem, agora! Não me deixes! Oh, Deus! Que fizeste? Abandonaste-me. Sim, és tu o culpado! Por quê? Por quê não me ajudas? Tu não me queres, bem seu. Sim! Queres somente os santos! Ajuda-me!
(Acende-se e apaga-se a luz)
Satã : Não adianta, Fausto. És meu já há quinze anos. Rejeitaste a Deus. Tens um acordo comigo, lembras? Cumpri minha parte. É a tua vez agora.
Fausto : Tem piedade! Faz-me sofrer 50 anos ainda na terra, mas livra-me da promessa!
Satã : Fausto, Fausto. Cumpri minha parte. É agora a tua vez.
Fausto : Não! Não! Deus! Ajuda-me!
(Satã, aproximando-se )
Satã : Ele já não te ouve mais, Fausto. É minha a tua alma.
(Fausto, saindo do palco, seguido por Satã)
Fausto : Não! Vai-te! Deixa-me em paz! Não!
(Muda a música. Ouve-se, pausadamente, a voz de Deus)
Deus : "Que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Que daria um homem em troca de sua alma? Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele."
"Buscai, pois, em primeiro lugar, o meu Reino e a minha Justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas."
(Música)
Deus : "A todo aquele que pecar e arrepender-se verdadeiramente será perdoado. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo estará condenado eternamente."
(Música)
Deus : “A todos quantos me receberam dei-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”.
(Aumenta a música)
Nenhum comentário:
Postar um comentário